Deslize -

Deslize - E você é capaz. Para isso, não se incomode com coisas pequenas, com obstáculos que aparecem do nada, com gente que não vale a pena. Simplesmente leve a sua vida de acordo com os seus valores, seguindo a trilha da sua consciência. Não se deixe levar pela irritação, a raiva; não aceite provocações, não se incomode com a opinião de pessoas mal intencionadas. Não caia nessas armadilhas - é só desgaste e perda de tempo. Agir assim é um desafio diário, mas vale a pena.
- Chuck Palahniuk -

27 março 2010

Coisa de português.




Nunca botei vídeo aqui, eu não sei fazer isso.

O primeiro vídeo acho que merece ser esse.
Essa é a primeira música do que, na minha opinião, é o melhor album da banda.
A banda é Madredeus, a música, Lisboa Rainha do Mar. O álbum, Fáluas do Tejo.
Botar esse disco e escrever é bom. Ouví-lo e ler é bom também, pra quem consegue – eu prefiro silêncio. Ouví-lo enquanto cozinha. Mas aí depende do cardápio tambem, tem que ser receitas calmas, devagares, que te deem tempo, pra ouvir, pra curtir, pra pensar. Enquanto prepara um risoto e vai acrescentando o caldo, ou enquanto monta a lasagna e depois enquanto espera ela ficar pronta. Ouví-lo enquanto trabalha. Acho que tem bandas e tipos de música que são ótimos pra ouvir no carro, numa viagem, ou na cidade mesmo. Mas Madredeus não. Madredeus é de ouvir em casa, Madredeus inspira sossego. Ouví-lo ao tomar um vinho, apenas, olhando pra nada, pensando na vida.

Essa música não tem clipe, pelo menos não achei. O que achei foram essas imagens da capital de Portugal, que aparecem enquanto toca essa delícia.

Não tanto pelas imagens, não tanto pelas letras. Sim pela voz, pela melodia. Vontade de conhecer Portugal, de conhecer Lisboa. Vontade de caminhar pelas ruas, de aprender sobre quão antigas são as coisas lá, sobre quanta história tem por lá. Tenho aquela impressão de que ouvir essas músicas é como ouvir Portugal. Mais ou menos como ouvir Tom Jobim, Toquinho e as coisas do Vinicius de Moraes é ouvir o Brasil.

09 março 2010

Road, Abbey


Esperar na esquina, a pé. Sinal fechado pra pedestres. Nenhum carro passando pela rua inteira, nem perto, nem a 5 quarteirões dali, nem no limite da minha visão. Forço um pouquinho o olhar até o horizonte. Pro outro lado tambem. O mais longe que eu consigo ver. Nada. Nenhum carro. Só eu, sem ninguém do meu lado, ou do outro lado da rua. Só eu, minha impaciência e... a minha cara de otário.
Nesse momento, nessa situação, eu tenho certeza absoluta que tem um monte de gente em volta, sentados nos cafés, comendo nos restaurantes, esperando nas lavanderias, se deliciando nas sorveterias, todos, sem exceção, olhando pelo vidro e rindo da minha cara. Eu tenho a nítida sensação de que ta todo mundo falando: “-Olha ali aquele otário esperando nao se sabe o que pra atravessar. Não vem nenhum carro num raio de 3 kilômetros – milhas, eles devem pensar – e ele ta ali, parado, estúpido, perdendo o tempo dele.”
E é exatamente assim que eu me sinto.
Assim que abre o sinal pra mim, imediatamente eu saio correndo. Pra bem longe de todos aqueles olhos e comentários maldosos a meu respeito.
Ainda teve uma vez que foi pior que isso. Era noite. Talvez por isso tivesse menos pessoas me observando e comentando sobre meus passos. Mas é por isso tambem, pelo cair da noite, que alguns semáforos aqui não abrem mais para pedestres, a não ser que o próprio pedestre aperte o botão. E o pedestre era eu. Então, 5 minutos depois, sentindo a horrível sensação de que, por que o sinal fechava pros carros na minha mão de atravessar e mesmo assim não abria pra mim (nesse caso, ainda pior, tinham carros ali e estavam parados, me olhando), eu não vi outra saída a não ser sair correndo o mais rápido que pude pra não ser notado e, principalmente, não ser visto por policiais.
O lance é que aqui eles – e é assim que a gente tem que tratar essa gente da lei daqui que ta sempre disposta a te prender ou, no mínimo te dar uma multa, como inimigos - te multam (sim, o pedestre, veja o absurdo!) se tu atravessa com o semáforo fechado pra ti ou em algum lugar que nao seja esquina, ou, pelo menos algo em comum, em cima da faixa de pedestres.
Corri rápido, sem olhar pra trás, com medo de ser pego.
Até a próxima esquina, onde um americano malandrinho apertou um botão instalado no poste e, assim, como numa passe de mágica, acendeu um bonequinho verde do outro lado da rua.
Aquele bonequinho imbecil, com certeza ria de mim junto, só me olhando, escondido atrás daquela mão vermelha e irônica.