Deslize -

Deslize - E você é capaz. Para isso, não se incomode com coisas pequenas, com obstáculos que aparecem do nada, com gente que não vale a pena. Simplesmente leve a sua vida de acordo com os seus valores, seguindo a trilha da sua consciência. Não se deixe levar pela irritação, a raiva; não aceite provocações, não se incomode com a opinião de pessoas mal intencionadas. Não caia nessas armadilhas - é só desgaste e perda de tempo. Agir assim é um desafio diário, mas vale a pena.
- Chuck Palahniuk -

16 abril 2010

Pra quem sabe brincar.


Primeiro os mais velhos. Entao primeiro o Zé Pedro escreve, depois eu. Dizem que o burro vem sempre atrás tambem, quando a gente usa a ordem dos sujeitos de uma frase de maneira errada. E, em termos puramente escritores, eu sou o burro aqui entre nós dois.
***
O Zé Pedro escreveu: O Frescobol e o Sentido da Vida.
“Nem todos gostam da fama. Tenho um amigo assim. O cara é tão obsessivo pelo anonimato que se pudesse desenhava um contorno no lugar da foto no RG. Razão pela qual vamos preservá-lo por aqui. Mas ao contrário da sua crença na invisibilidade, esse é um sujeito de idéias nítidas e fulminantes. Essa semana ele apareceu lá em casa - como sempre, sem avisar - e foi logo dizendo: "resolvi o problema do futebol". Antes que eu pudesse entender melhor a questão, ele decretou:
- É simples, é só acabar com os gols.
Não adiantava lhe enviar um olhar como se ele fosse louco, já estava acostumado com isso. "O problema é justamente esse: jogar pelo resultado. Tira-se o resultado e sobra o quê?" No meu rosto nada mais do que um ponto de interrogação. "O espetáculo, as jogadas, os dribles, enfim, o jogo em si." E sem ninguém a lhe impedir, concluiu: "Sem gol não tem retranca, não tem juiz ladrão, ou faltas violentas: tudo que é ruim no futebol."
Arrisquei perguntar como afinal se saberia quem iria vencer, mas ele já tinha a resposta na ponta da língua: "Não se saberia, aí é que está. O problema da vida é justamente esse, a busca de resultados. Em qualquer lugar, não só no futebol". O sujeito parecia febril, no lugar dos olhos, dois sóis ocupavam as cavidades oculares. "Veja o frescobol, alguém já brigou jogando frescobol?" Eu disse que nunca soube. Ele concluiu com veemência: "é porque ninguém ganha, ou melhor, ganham os dois que jogam". E antes que eu dissesse qualquer coisa veio a frase definitiva:
- Chega dessa política liberal que só enxerga os resultados: é preciso frescobolizar o mundo.
E foi saindo, assim, sem avisar, como havia chegado. Eu é que tirasse minhas próprias conclusões, ele não estava interessado em réplicas. Fui atrás, dei-lhe um tapinha nas costas e disse: "Você está afiado hoje, hein?". Mas ele não deu bola, elogios nunca o seduziram.
Continuei procurando algo que o detivesse, só por teimosia. Então eu disse, num exercício de drama - aquele tipo de drama que fica a um milímetro da farsa: "Só falta explicar o sentido da vida."
Isso o deteve: John Wayne numa remota rua empoeirada, provocado por um pele vermelha. Tal qual os mocinhos fazem, ele esperou que eu sacasse a arma primeiro.
- De onde viemos? - perguntei.
Ele quase riu, pelo jeito era algo em que já havia pensado muito, então disse:
- Não interessa.
- Para onde vamos? - insisti.
- Também não.
E se mandou.”
***

Há alguns bons anos, eu ía pro Imbé com o Luquinhas.
(Precoces) Parênteses: Tem cidades que, mesmo sabendo que o correto seria falar “pra” tal cidade, ou “de” tal cidade, a gente precisa falar “pro” e “do”. Pro Imbé é um desses casos. Ou dá pra falar que alguém vai pra Alegrete? Até blasfêmia é. Pro Alegrete tchê. Deve ter sido aquele canto gauchesco e brasileiro que fez isso...
Dizia eu...
Ele tinha uma casa de esquina, grande e bem localizada. Tinha uma quadra de tênis do lado, que dava pra jogar qualquer coisa, na verdade, mas que fato é que eles estacionavam o bugue que tinham. Era um bugue vermelho que eles compraram e tiveram que montar, como fazíamos quando criança com barquinhos e carrinhos. Mas eles montaram um de verdade. E andavam com ele, o que é pior. Mas tinha que cuidar, porque nao tinha ducumentos. Nem quarta marcha.
Toda manhã acordávamos cedo – o que era quase impossível depois de ter ido dormir depois das 3 da manhã – e íamos pra praia, toda a família. Seu Moisés, pontualmente na hora combinada, estava todo santo dia com o bugue ligado e gritando que ía nos deixar. Deixava mesmo. Tínhamos que voar da cama direto pro banco escalpelante do protótipo conversível. As 10 horas começava o jogo.
Aquela é a quadra de vôlei de praia mais famosa do Brasil. A Quadra da Diva.
A Diva é uma senhora – de quem faz muito tempo que não tenho notícia – de muitos anos de idade, provavelmente por volta de 70 (naquela época), que montava a quadra todos os dias de verão, jogava o jogo das 10hs e depois ficava por ali, dando pitaco e servindo o melhor chá gelado da história dos chás gelados. Ela roubava também, na hora de contar os pontos e na hora de dizer que a jogada dela valia. Ah, tenho um amigo que perdeu a virgindade com ela, reza a lenda. Ele tem um ano a menos que eu.
Naquela quadra jogavam todos os jogadores e ex-jogadores de vôlei do RS. Dos piores aos melhores. Famosos também tinham seus momentos, como quando Taffarel mostrava seus dotes voleibolísticos alí com o pessoal. E foi alí, naquelas manhãs de sol e suor, que descobri que não era uma pessoa tão competitiva quanto achava que era. Cresci competindo, jogando contra outros clubes, outros atletas. Contra outras cidades ou, principalmente, contra o outro clube de Porto Alegre. Era como Gre-nal. Mas lá na Diva vi a competição tomar conta das minhas férias, das férias de todo mundo e da mesa de jantar. Explico: Da família do Luquinhas, só quem não jogava era a mãe. Os dois irmãos mais velhos, a irmã e o pai jogavam, assim como ele. No almoço, depois dos jogos todos, sentávamos na mesa e a família só parava de brigar e discutir sobre os jogos depois que terminavam de comer e saía cada um pro seu lado, sem se falar. Eu e a Laurinha, maravilhosa mãe dele, só nos olhávamos. E ríamos. Com sorte, no jantar as coisas estavam calmas. E muito, muito engraçadas. Que família maravilhosa.
Mas não, aquela competição, nas minhas férias, em jogos que não valiam minhas medalhas e troféus, não era pra mim. Gosto de rir jogando um futebol com meus amigos, jogando um basquete com a galerinha. Mas que não comecem a exigir, a brigar, a bater. Brincadeira é brincadeira, e não suporto gente que não sabe brincar. Gosto de errar em bola e perder meus gols sem goleiro e dar risada.
Mas que eu não erre uma bola feita jogando uma sinuquinha num sábado a noite. Aí o assunto é sério.

3 comentários:

Mami disse...

Coisa mais linda. Dudi!

Pijamas disse...

Como escreve bem. Credo.

erico disse...

Se acabar com o futebol te mato.